Pesquisadores analisam a acústica do milenar círculo de pedras Stonehenge, na Inglaterra, e concluem que o monumento gerava interessantes efeitos sonoros: as rochas pareciam falar e o som se propagava do mesmo modo que no interior de uma sala.
“Além de não estar completo, Stonehenge real é cheio de restrições: não podemos fazer instalações elétricas para ligar os nossos microfones e gravadores lá, nem usar pistolas de som que normalmente disparamos em testes acústicos”, conta o engenheiro acústico português Bruno Fazenda, que esteve esta semana no Brasil para divulgar o estudo. “Não sabemos por que os americanos quiseram fazer um Stonehenge em homenagem aos soldados, mas quando soubemos que ele existia, demos pulos de alegria!”
Os testes acústicos revelaram que, dentro do círculo de pedras, o som se comporta do mesmo modo que em um ambiente fechado e abafado, como uma sala de aula. O posicionamento das pedras faz com que as ondas sonoras batam nas superfícies da construção e sigam se refletindo e se espalhando pelo seu interior de modo uniforme.
Diferentemente do eco, que é o som criado por uma única reflexão da onda sonora, o fenômeno observado pelos pesquisadores é chamado de reverberação e produz um som que se mantém por uma sucessão de reflexões que ocorrem em tempos diferentes. Na réplica de Stonehenge e, por associação, na construção original, a reverberação durava por 0,7 segundo depois da emissão do som.
“Não é muito se comparado com a reverberação encontrada em catedrais desenhadas para gerar esse efeito, onde o som pode se manter por até 10 segundos, mas é um efeito suficientemente forte para ser percebido pelo ouvido humano”, comenta Fazenda. “É um efeito acústico dramático ao qual o homem do passado não poderia ter ficado alheio.”
Segundo o pesquisador, na época em que Stonehenge foi construído, as casas eram rústicas e não proporcionavam reverberação. “Esse efeito sonoro deveria ser com certeza algo que se destacava, pois não podia ser experimentado tão facilmente como acontece hoje”, explica.
“Não encontramos um ponto específico em que se pudesse ouvir melhor, o som era audível de qualquer lugar, do centro ou da periferia”, diz Fazenda. “O interessante disso é que uma pessoa podia ficar escondida atrás de uma das pedras, falar alguma coisa e a sua voz iria ser ouvida de qualquer lugar por outra pessoa, mesmo que visualmente elas não se percebessem. Meus amigos antropólogos comentam que talvez os druidas usassem isso para que outros homens pensassem que a pedra estava falando.”Por causa da reverberação, o som dentro de Stonehenge se difundia por todo o espaço ocupado pelo monumento. Isso quer dizer que era possível ouvir claramente um sinal sonoro emitido dentro da estrutura independentemente do lugar em que o ouvinte estivesse.
Antes de saber da réplica, Fazenda e colegas haviam feito algumas medições no Stonehenge original. Chegaram a levar músicos para lá para tocar instrumentos que eram utilizados pelos druidas, como flautas rústicas feitas com osso de ganso. Os antropólogos que participaram do estudo acreditavam que Stonehenge poderia ter sido uma espécie de anfiteatro onde os povos antigos faziam apresentações de música e rituais.
Mas essa ideia não pôde ser confirmada com o estudo acústico. “Seria maravilhoso pensar que eles construíram esse espaço para fazer umas raves”, brinca o engenheiro acústico. “Mas a verdade é que não temos como saber o que eles faziam lá.”
Fazenda também ressalta que, em vez de procurar por uma intencionalidade acústica no círculo, sua pesquisa pode ajudar a entender melhor como era a relação do homem antigo com o espaço e o som. “Não podemos afirmar que eles tinham a intenção de criar reverberação ao construir Stonehenge”, destaca. “Certamente eles perceberam que aquela arrumação das pedras gerava um efeito, mas eles não eram engenheiros e não tinham como fazer isso de propósito.”
ASSISTA O VIDEO DE COMO ESSAS PEDRAS FAZEM O SOM:
<https://youtu.be/adSrl34lFZI>
<https://youtu.be/cndIuG1xRFo>
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